“O homem branco é o senhor, dono, proprietário dos cinco outros homens negros e mulatos. Está na frente, na posição de autoridade e domínio. Os outros se encontram atrás. O primeiro na esquerda do senhor é mulato, está bem vestido. Ao contrário dos outros, deixou o cabelo liso crescer, penteou-o, fez uma risca no lado esquerdo, como o seu senhor. Mas não pode usar sapatos, privilégio e marca distintiva dos livres e libertos. Tirar fotografia era uma operação demorada. Ninguém podia se mexer durante quase dois minutos. Outras tentativas poderiam ter falhado. O fotógrafo Militão, que fez essa foto em São Paulo, deve ter reclamado. Por isso ou outras razões mais secretas, o senhor está zangado, de cara amarrada. O escravo situado a sua direita assustado, enconlheu-se. Na extrema esquerda, o homem com a varinha na mão – pastor de cabras ou vaca leiteira da cidade – tem um olhar altivo, talvez porque traga na mão o objeto de seu ofício, que o distingue dos outros cativos, paus para toda obra. Na extrema direita, o homem de branco se mexeu: estragou a foto da ordem escravista programada pelo senhor. Vai apanhar. No seu rosto fora de foco vislumbra-se o medo. Vai apanhar.
( Foto de Militão Augustos de Azevedo, São Paulo, c. 1870) ”
Fontes: Livro História da Vida Provada no Brasil – Luis Felipe de Alencastro e Fernando A. Novais
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